Ultimamente muito tem se ouvido falar de evangélicos que não querem mais frequentar uma igreja. Eles ficaram conhecidos popularmente como os desigrejados. Que, segundo definições teológicas, são pessoas que ficaram insatisfeitas com a liderança local da sua congregação e com os modelos rígidos das igrejas que frequentavam.
“O fenômeno dos desigrejados surge com a interpretação de que toda estrutura religiosa apresenta-se como “instituição desnecessária”, defendendo que a fé cristã pode ser exercida desvinculada da comunhão da igreja”. Alexandre Oliveira Bilhalva
Então, rejeitam a prática dos cultos e abandonam o templo. E como consequência, deixam de ter comunhão com os irmãos na fé.
Os desigrejados não aceitam mais fazer parte da membresia. Ou seja, desistiram da igreja e de toda a estrutura congregacional.
Segundo seus conceitos, Jesus não organizou e nem construiu nenhum templo. Para eles, a igreja verdadeira não tem templo, cultos regulares aos domingos, tesouraria, hierarquia, ofícios, ofertas, dízimos, confissões de fé, rol de membros, propriedades, escolas, seminários e etc.
Muitos ainda afirmam, que um dos piores erros é a incompetência da liderança uma vez que, a organização humana é falha e tem caído em pecados e escândalos, prestando um serviço desleal ao Evangelho. Outros vão dizer que é necessário sair do templo para encontrar a Deus.
Em seu livro Decepcionados com a Graça, o autor Paulo Romeiro sugere que primeiro “ocorre o deslumbramento, a expectativa e a entrega pessoal pela causa e a confiança despreocupada na proposta dos grupos das igrejas mas com o tempo, porém, vem os questionamentos relativos à linha de pregação, à administração financeira ou às questões éticas, provocando o rompimento”. (ROMEIRO, 2005, p. 42).
Quando analisamos os motivos pelos quais os desigrejados se privam da comunhão com o corpo de Cristo, vemos que é necessária a reflexão sobre como a igreja vem agindo com sua conduta cristã e ética, pois percebemos claramente que ao invés de transformar o coração dessas pessoas estamos afastando e privando-as do convívio com o verdadeiro Corpo de Cristo.
A diferença entre desigrejado e desviado
Precisamos saber separar o conceito de desigrejados e desviados. Desigrejados não estão totalmente desviados. São cristão que abandonaram a igreja mas não a sua fé.
Os desigrejados até podem deixar sua fé futuramente, devido ao esfriamento espiritual, pois acham que poderão se reerguer sozinhos, tentando sobreviver sem o resto do corpo, mas não são desviados necessariamente.
Vemos que esta classe de pessoas logo irá perecer como diz as escrituras sagradas:
“Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo se não permanecer na videira. Vocês também não podem dar fruto se não permanecerem em mim. Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma. Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados”. Jo 15:4-6
Chegou o tempo em que os evangélicos precisam evangelizar os próprios evangélicos, pois o cenário religioso brasileiro se alterou.
Essas pessoas precisam ser novamente impactadas pelo grande amor de Cristo e também pelo amor da igreja para com o próximo.
Como a igreja pode ajudar os desigrejados?
Dá a devida atenção aos membros de forma individual
A liderança eclesiástica precisa estar atenta quanto às suas práticas pastorais.
Muitos desses desigrejados não desejam mais fazer parte da membresia por estarem feridos com a igreja. Muitos vivenciaram a terrível experiência de serem julgados ou discriminados por alguns religiosos na igreja.
Por isso, a igreja deve olhar com misericórdia e amor para as necessidades e carências de relacionamento, emocionais e espirituais. Sabemos que o objetivo da igreja é glorificar a Deus, mas a igreja também precisa priorizar o tratamento e atenção que dá a cada membro.
Dá oportunidade
Existem membros que são extremamente frustrados pela falta de espaço para contribuir de alguma forma na igreja. Já outros, estão sobrecarregados com atividades que os deixam exaustos e desgastados.
Este é um outro ponto muito importante. No entanto, os dirigentes parecem não ser tão sensíveis e receptivos às solicitações de seus fiéis, esquecendo-se de dar a devida atenção às habilidades e os dons da membresia para servirem a Deus com seus talentos.
Esquece-se de uns e sobrecarrega-se outros.
É preciso ouvi-los com frequência, exercer o diálogo constantemente e, assim, realizar os devidos reparos para o bem estar e a continuidade da participação de todos.
Exercer o discipulado
As igrejas fazem grandes investimentos na área da evangelização com o intuito de atrair novas pessoas para Cristo. Porém, muitos que já estão dentro da igreja estão perecendo espiritualmente.
Por entender que já não precisam de tanta atenção assim, a liderança acaba deixando de lado aqueles que já fazem parte da comunidade. Estes, então, perdem o entusiasmo e abandonam a instituição por caírem na rotina da vida da igreja.
A igreja precisa refletir sobre o acompanhamento adequado de seus membros, lembrando-se que o verdadeiro discipulado, é fazer discípulos. Sendo assim, o discipulado tem que contribuir para que possam se espelhar em Cristo e ao mesmo tempo refletir a Sua glória.
Além disso, a liderança precisa exercer o discipulado com disciplinas que realmente evidenciam a importância do nascer de novo.
Viver o verdadeiro pastoreio
A igreja tem como um dos seus propósitos atender às necessidades dos seus membros para que vivam de forma plena em Cristo, sem abandonar a casa de Deus e a comunhão com os irmãos, mas estando engajados e servindo com amor.
O pastoreio deve acontecer de forma completa, pois como seres humanos somos compostos por corpo alma e espírito e todas essas áreas precisam ser cuidadas, através de curas interiores, auxílio na libertação de perdão dentre outros tipos de acompanhamentos.
A Bíblia afirma que Jesus é o Bom Pastor, (Jo:11; 1Pe 54); mas também afirma que Ele mesmo designou pastores e obreiros para cuidarem de sua igreja. Isto é um privilégio! (Ef 4:11-14)
Toda a visão do líder precisa partir do amor. Afinal, este deve proporcionar o contato fraterno entre todos que fazem parte do seu rebanho.
“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, mas o maior destes é o amor”. (1Co 13:1-13).
Desta forma, concluímos que não é projeto de Deus que vivamos a caminhada cristã sozinhos, nem Jesus fez isso, muito menos os seus discípulos.
“Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia”. Hebreus 10:25
A vida em comunidade na igreja não é apenas uma proposta para nos sentirmos melhor, mas para aprendermos com as diferenças e conseguirmos enxergar no outro que não somos quem gostaríamos de ser. Nessas experiências, se buscarmos verdadeiramente de Deus, o espírito nos fará pessoas melhores, mais parecidas com Ele.
Nossa intenção aqui não é apontar o dedo e responsabilizar as lideranças pastorais, sobre a desistência de congregar de algumas pessoas na igreja, mas sugerir uma reflexão sobre a importância de um transparente prática do seu ministério cristão, deixando prevalecer o verdadeiro pastoreio, discipulado, atenção, cuidado e amor para com essas pessoas.
Deus os abençoe.
Assunto muito relevante para a igreja contemporânea. Precisamos de líderes que vivam biblicamente o acolhimento e o pastoreio.
Igreja acolhedora surge de líderes acolhedores. Parabéns pelo texto.
Muito obrigada. Ficamos contentes em saber que gostou do nosso conteúdo. Deus abençoe a sua vida!